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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O SISTEMA SEMPRE PREJUDICA O ÁRBITRO


Começo dizendo, com muita tristeza, o que está acontecendo no nosso meio futebolístico. Não quero afirmar coisas infundadas ou apenas para que as pessoas tirem a razão de ser árbitro ou assistente. Há muito tempo venho escrevendo sobre os árbitros de futebol. Aliás, com consciência de pertencer ao time dos homens de preto, com muito carinho. Ao longo dos anos, fui notando que alguma coisa estava indo errada. Senti que a minha vida era pura emoção de viver para o esporte, porém o tempo passou e fui observando situações nada agradáveis à sobrevivência dessa profissão tão gloriosa e respeitada. Muitos colegas de trabalho estavam sendo impedidos de crescer.

Já cansei de ver gente competente que, de um momento para o outro, deixou de ser prestigiada pelo sistema de arbitragem. Já vi árbitro experiente repentinamente cair em desgraça, e árbitro jovem comentar algo brilhante nas reuniões dos árbitros e ser duramente criticado pelo diretor da comissão de árbitros, sem saber o motivo. Por esta razão, pessoas com talento e inteligência dificilmente são promovidas no mundo inteiro, com poucas exceções. Promovidos são os chumbetas de árbitros e puxa-sacos. Quando aparece alguém com dois olhos, que dizer, com uma visão de fazer crescer todo o grupo, os bajuladores, os carregadores de malas e reizinhos tratam de eliminá-lo, quanto antes melhor.
Não podemos aceitar que, ainda no século XXI, existam pessoas querendo tirar proveito para si, entendendo que o melhor dever vir totalmente para si. Por isso, excluir árbitros com capacidade excelente, que poderiam trazer mais sustentação ao quadro de arbitragem a que pertence me acabam sendo fracos técnica e fisicamente. Entendo que esse problema está ocorrendo há muitos anos equivocadamente, só teremos uma arbitragem sólida quando a entidade, a direção de árbitros e o próprio árbitro crescerem. Se por caso um dos três não está ascendendo é porque algo vai mal; então, isso me leva a crer que geralmente quem mais perde é o árbitro, porque quem é competente e inteligente acaba sendo abandonado pelos jogos chamados “apagões”, aqueles em que ninguém o conhece e ele nem aparece para o público.

Fica difícil compreender por que ainda há federações, sindicatos e comissões de arbitragem tratando os árbitros como se fossem subordinados e escravos, não pagando taxas há meses ou anos para os jogos considerados amadores e, para os chamados profissionais, passarem a receber uma ninharia só depois de três meses daquela partida. Árbitros que hoje poderiam ser úteis à profissão estão fora do quadro de arbitragem por falta de incentivos e atrativos para permanecerem atuantes, e ainda sendo humilhados pelas autoridades do futebol.
Certa vez um árbitro foi agredido durante o jogo por um atleta que estava inconformado com sua expulsão. O caso foi manchete nacional. Esse árbitro deveria ser defendido por quem de direito, mas acabou sendo afastado da função por vários jogos. Inconformado com essa injusta situação, o mesmo solicitou a sua saída definitiva da profissão de árbitro. Nosso erro, como um todo, foi e é justamente não identificar aqueles árbitros que enxergam com dois olhos para poder segui-los pelos caminhos como o são. A arbitragem precisa desesperadamente de gente que pense de forma clara e coerente, gente que observa com os próprios olhos aquilo que está a sua volta, em vez de excluir pessoas com muita capacidade de fazer também os outros crescerem.

Foi-se o tempo de uma elite pensante comandar escravos. Hoje, a maioria dos árbitros tem acesso aos meios de comunicação com mais informação do que essa intelligentsia* tinha quando foi árbitro de futebol. Se informação é poder, ela não é mais restrita a um pequeno grupo de bem-formados. Nosso árbitro precisa acreditar mais em si mesmo e perceber que cegos são os outros, aqueles com um olho só.

Lamento dizer: só quem pode prejudicar ainda o árbitro é o próprio sistema de arbitragem.

* O termo intelligentsia ou intelligentzia (do russo: интеллигенция, do latim: intelligentia) usualmente refere-se a uma categoria ou grupo de pessoas engajadas em trabalho intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e disseminação da cultura, abrangendo trabalhadores intelectuais.

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