Já cansei de ver gente competente que, de
um momento para o outro, deixou de ser prestigiada pelo sistema de
arbitragem. Já vi árbitro experiente repentinamente cair em desgraça, e
árbitro jovem comentar algo brilhante nas reuniões dos árbitros e ser
duramente criticado pelo diretor da comissão de árbitros, sem saber o
motivo. Por esta razão, pessoas com talento e inteligência dificilmente
são promovidas no mundo inteiro, com poucas exceções. Promovidos são os
chumbetas de árbitros e puxa-sacos. Quando aparece alguém com dois
olhos, que dizer, com uma visão de fazer crescer todo o grupo, os
bajuladores, os carregadores de malas e reizinhos tratam de eliminá-lo,
quanto antes melhor.
Não podemos aceitar que, ainda no século XXI,
existam pessoas querendo tirar proveito para si, entendendo que o melhor
dever vir totalmente para si. Por isso, excluir árbitros com capacidade
excelente, que poderiam trazer mais sustentação ao quadro de arbitragem
a que pertence me acabam sendo fracos técnica e fisicamente. Entendo
que esse problema está ocorrendo há muitos anos equivocadamente, só
teremos uma arbitragem sólida quando a entidade, a direção de árbitros e
o próprio árbitro crescerem. Se por caso um dos três não está
ascendendo é porque algo vai mal; então, isso me leva a crer que
geralmente quem mais perde é o árbitro, porque quem é competente e
inteligente acaba sendo abandonado pelos jogos chamados “apagões”,
aqueles em que ninguém o conhece e ele nem aparece para o público.
Fica difícil compreender por que ainda há federações, sindicatos e
comissões de arbitragem tratando os árbitros como se fossem subordinados
e escravos, não pagando taxas há meses ou anos para os jogos
considerados amadores e, para os chamados profissionais, passarem a
receber uma ninharia só depois de três meses daquela partida. Árbitros
que hoje poderiam ser úteis à profissão estão fora do quadro de
arbitragem por falta de incentivos e atrativos para permanecerem
atuantes, e ainda sendo humilhados pelas autoridades do futebol.
Certa vez um árbitro foi agredido durante o jogo por um atleta que
estava inconformado com sua expulsão. O caso foi manchete nacional. Esse
árbitro deveria ser defendido por quem de direito, mas acabou sendo
afastado da função por vários jogos. Inconformado com essa injusta
situação, o mesmo solicitou a sua saída definitiva da profissão de
árbitro. Nosso erro, como um todo, foi e é justamente não identificar
aqueles árbitros que enxergam com dois olhos para poder segui-los pelos
caminhos como o são. A arbitragem precisa desesperadamente de gente que
pense de forma clara e coerente, gente que observa com os próprios olhos
aquilo que está a sua volta, em vez de excluir pessoas com muita
capacidade de fazer também os outros crescerem.
Foi-se o tempo
de uma elite pensante comandar escravos. Hoje, a maioria dos árbitros
tem acesso aos meios de comunicação com mais informação do que essa
intelligentsia* tinha quando foi árbitro de futebol. Se informação é
poder, ela não é mais restrita a um pequeno grupo de bem-formados. Nosso
árbitro precisa acreditar mais em si mesmo e perceber que cegos são os
outros, aqueles com um olho só.
Lamento dizer: só quem pode prejudicar ainda o árbitro é o próprio sistema de arbitragem.
* O termo intelligentsia ou intelligentzia (do russo: интеллигенция, do
latim: intelligentia) usualmente refere-se a uma categoria ou grupo de
pessoas engajadas em trabalho intelectual complexo e criativo
direcionado ao desenvolvimento e disseminação da cultura, abrangendo
trabalhadores intelectuais.
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